Antena Educativa e moradores transformam o Jardim Olinda

Você já se perguntou o que deixará como legado no planeta terra? Por quais ações você será lembrado? O que te incomoda na humanidade e o que você tem feito em relação a isso?

Pensando em responder essas e outras questões e repassar ao próximo um caminho de construção para um futuro melhor, Nilton Clecio idealizou a Antena Educativa, uma iniciativa que tem como objetivo unir esforços coletivos para troca de saberes e experiências em prol do desenvolvimento comunitário de modo que os participantes tenham a oportunidade de estar em constante evolução e que seja possível a aproximação entre diferentes classes sociais.

Para fortalecer esse objetivo, a iniciativa divulga em suas redes algumas filosofias como: 

“O que você transmite irá reverberar, e você pode ser um agente da mudança. Não existe ninguém tão rico que não possa receber nada, e não há ninguém tão pobre que não possa doar. Doe tempo, doe amor, doe experiência e seja a mudança”, autor desconhecido.

Tais filosofias também são mostradas na prática através das benfeitorias já desenvolvidas em conjunto com a comunidade do Jardim Olinda, localizada no distrito de Campo Limpo, periferia sul da cidade de São Paulo.

 

Nasce a Antena Educativa

De acordo com Nilton Clecio, a Antena Educativa nasceu no início da pandemia de Covid-19, no começo do ano de 2020.

Na ocasião as necessidades econômicas das comunidades, já marcadas por desigualdades, ficou ainda mais abalada e, tentando suprir essa demanda, iniciou-se um movimento para buscar doações de alimentos e kits de limpeza para os moradores do Jd. Olinda.

Nilton conta que realizou levantamento censitário na COHAB Jd. Olinda, onde reside, para se ter um retrato mais claro da realidade local e, desse modo, embasar as ações da iniciativa e executá-las de forma mais assertiva.

A partir desse pontapé inicial a Antena Educativa mobiliza a comunidade a se unir e trocar saberes em prol de melhorar o bairro e a qualidade de vida de cada um de seus moradores. 

Com isso, mais de um ano depois, a iniciativa oferece diversas oportunidades para os que vivem lá:

  • O mutirão comunitário busca engajar os moradores de regiões periféricas a trocarem experiências para aplicar em benfeitorias no território e assim, fortalecer a atuação dos participantes como protagonistas de transformações sociais;
  • A iniciativa destaca o trabalho dos empreendedores locais ao registrar e divulgar pequenos negócios a fim de dar visibilidade e gerar parcerias que venham a fortalecer os empreendimentos periféricos e ampliar a renda dos trabalhadores;
  • Com parceiros e trabalhadores voluntários, a Antena Educativa oferece produtos, serviços e soluções de forma gratuita, fortalecendo a atuação da comunidade e contribuindo para grandes transformações sociais;
  • A arte e a cultura são direitos do povo e o cinema comunitário surge como uma oportunidade de compartilhar conteúdos educativos no formato audiovisual, principalmente para as crianças e jovens da comunidade, apresentando assim novas formas de enxergar o planeta, a sociedade, o outro e novas perspectivas de futuro para quem está começando a vida;
  • Com a colaboração de parceiros sociais, a iniciativa realiza o bingo social de produtos e serviços que objetivam aquecer os corações dos moradores locais, bem como melhorar as condições de vida e ampliar a consciência social da comunidade;
  • Além disso, a iniciativa abre espaço para a contratação de palestras motivacionais, comunicação em ambientes de conflito e serviços de levantamento de perfis com projeção em dashboard – uma espécie de painel de controle – que reúne informações de forma simples e facilita a tomada de decisões rápidas.

 

Metas e conquistas da Antena Educativa para o Jardim Olinda

Mesmo que muitos acreditem que um ano e meio seja pouco tempo de atuação, esse período foi o suficiente para a iniciativa promover grandes mudanças e traçar muitos planos para transformar o Jardim Olinda e melhorar a qualidade de vida de seus moradores. 

Nilton conta que foram distribuídas mais de 600 cestas básicas e kits de limpeza – arrecadadas em conjunto com a Fundação ABH, a Rede aTUAção PerifaSul e outros atores do território.

Além disso, cinco espaços de uso comum passaram por benfeitoria, alguns locais receberam iluminação, um problema de descarte irregular de esgoto foi solucionado e teve início um movimento para chamar a atenção da subprefeitura local para as questões problemáticas do bairro.

Além disso, o coletivo já estabeleceu as metas que pretende atingir através da união dos moradores da região. 

Nilton afirma que, a curto prazo, a Antena Educativa pretende renovar a parceria com a Fundação ABH e parceiros pelo edital aTUAção PerifaSul – através do qual, além do investimento financeiro, tem a oportunidade de participar de formações e orientações que o ajudam a desenvolver e direcionar a iniciativa para um caminho mais sustentável. Ele ressalta ainda o objetivo de conquistar novos parceiros dispostos a investir nas transformações sociais da periferia sul como um todo.

Já, a longo prazo, revela planos de estruturar o bairro para dar visibilidade a causas sociais e receber turistas que queiram conhecer uma comunidade que foi urbanizada.

“Queremos transformar o território em um espaço turístico, com pinturas nos prédios, queremos que cada bloco seja adotado por uma causa e iremos pintar o prédio e criar grandes desenhos sobre aquela causa. Então, o local será um ponto turístico”, explica ele.

E essa jornada de benfeitorias e transformação social para desenvolver a comunidade e torná-la melhor para seus habitantes começou pelas mãos dos próprios residentes da área, mas Nilton Clecio afirma que ainda há muito para aprender.

“Ainda estamos aprendendo e descobrindo quais são os melhores caminhos para atuar em uma comunidade com desafios imensos”, declara, e destaca que a maior transformação é ver que a esperança de melhorar o espaço começa a nascer nos moradores. 

Nilton ressalta ainda a importância do casamento entre o movimento da população e o suporte do poder público. “O poder público não deu o treinamento necessário para internalizar a mudança. Os moradores possuem desafios para fazer a gestão do espaço e muitos locais estão praticamente abandonados. Existe uma deterioração de espaços comuns e não existem líderes que possam articular as recuperações”.

 

Desenvolvimento comunitário no Jardim Olinda

A Fundação ABH tem o papel de fomentar e potencializar iniciativas que atuam em prol do desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo, por meio de investimentos financeiros, geração de conhecimento e formação de redes e é esse o propósito da Antena Educativa no Jd. Olinda.

O Jd. Olinda era uma região de fazenda loteada, onde só havia mata virgem, segundo relato de moradores mais antigos que aparecem no documentário A Jornada, produzido por João Ramalho em parceria com um grupo de jovens da Escola Estadual Professor Flávio José Osório Negrini. Eles contam ainda que o local era distante dos serviços básicos e necessários, por isso precisavam percorrer longos caminhos para fazer compras ou ir a hospitais.

De acordo com dados do mapa HabitaSampa, da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo (SEHAB-SP), o local foi ocupado a partir do ano de 1970 e que, atualmente, possui 1819 domicílios.

Entretanto, Nilton Clecio, nascido e crescido na região, explica que antes dessa data já haviam habitantes no local, mas que foi no início da década de 1970 que houve uma imigração massiva para o bairro. Ele aponta ainda que, hoje em dia, o bairro conta com cerca de 3 mil residências, um número superior ao apontado pelo mapa HabitaSampa.

Essa proximidade e carinho pelo Jardim Olinda fez com que Nilton escolhesse o bairro para iniciar as atividades da Antena Educativa, mas garante que pretende expandir a atuação do coletivo para outros bairros próximos.

“Eu nasci lá e quero transformar o local, ainda temos muita vulnerabilidade e sinto que a mudança precisa nascer de dentro da gente. A ideia é usar o local como laboratório e assim outras comunidades terão histórico e inspiração para fazerem transformações locais”, explica ele.

Nilton reitera que o trabalho coletivo é essencial para promover a comunidade e avançar com seu desenvolvimento e bem-estar dos moradores.

“As comunidades só poderão sobreviver se unirem forças, se descobrirem seus talentos e os valorizarem; dar oportunidade para o indivíduo; é o coletivo que dá vida à periferia, pois somos um complemento, nos somamos, nos fortalecemos. É um trabalho desafiador e exige muita paciência e respeito, porque temos desejos diferentes, necessidades diferentes e tempos diferentes. Mas, estamos aí para conectar tudo isso e transformar”.

PerifaSul 2050 e o futuro do desenvolvimento comunitário

O futuro do desenvolvimento comunitário da zona sul da cidade de São Paulo é uma das muitas pautas debatidas nas reuniões do PerifaSul 2050, iniciativa idealizada pela Fundação ABH, que teve início em fevereiro de 2021.

Dentro da temática, educação, raízes culturais e participação social foram os principais subtemas discutidos nos encontros.

O contexto desses temas no território são, por exemplo, a existência de poucos espaços para a juventude praticar atividades artísticas e culturais, pouca representatividade das comunidades junto à gestão pública e pouca participação e interesse dos moradores nas questões que envolvem as comunidades.

Diante da problemática, algumas soluções de curto, médio e longo prazo foram determinadas para desconstruir e reconstruir a forma como os moradores podem olhar para a própria comunidade e ajudar a transformá-la.

Descrevemos algumas a seguir:

  • Fomentar projetos desenvolvidos pelas próprias comunidades e assim desenvolver e ampliar o acesso à cultura local;
  • Ampliar a divulgação dos conselhos existentes no território, promovendo a participação social no debate e conscientização da sociedade; 
  • Conscientizar a periferia sobre a importância do senso comunitário para o resgate dos direitos básicos;
  • Instruir a periferia de que olhar para o seu próximo e para a própria comunidade geram riquezas imensas;
  • Reforçar a importância da solidariedade.

Nesse cenário, a Fundação ABH reafirma o seu papel de se unir aos atores sociais do território e fomentar as iniciativas que atuam em prol do desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo, por meio de investimentos financeiros, geração de conhecimento e formação de redes.

Mas, mais do que isso, a organização atua para que as potências locais se identifiquem e trabalhem juntas agregando as experiências de cada um para transformar o todo. 

"Com objetivos claros e um plano de ação onde os atores locais se enxerguem, poderemos avançar em vários aspectos com autonomia e união de todos", afirma Marina Fay, Diretora Executiva da Fundação ABH.