Projeto Sementinha (ano 3)

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O CPCD

O CPCD é uma organização não-governamental, fundada em 1984 pelo educador e antropólogo Tião Rocha, em Belo Horizonte/MG, para atuar nas áreas de Educação Popular de Qualidade e Desenvolvimento Comunitário Sustentável, tendo a Cultura como matéria prima e instrumento de trabalho, pedagógico e institucional.

Sua missão é ser uma instituição em permanente aprendizagem nos campos da Educação e do Desenvolvimento, tendo a Cultura como matéria-prima e instrumento de ação.

Desde 1984, o CPCD se dedica à implementação e realização de projetos inovadores, programas integrados e plataformas de Transformação Social e Desenvolvimento Sustentável, destinados, preferencialmente, às comunidades e cidades brasileiras com menos de 50 mil habitantes onde vivem mais de 90% da população brasileira.

O CPCD e a Fundação ABH firmaram uma parceria para dar início ao Projeto Sementinha na Chácara Santo Amaro (distrito de Grajaú) em São Paulo.

Projeto Sementinha

Na construção de uma Comunidade Saudável sementes são jogadas em várias direções.

Num território onde moram crianças, jovens, mulheres, famílias com saberes acumulados, sonhos desejados e potências disponíveis, as possibilidades são diversas e promissoras.

Uma delas é mobilizar mães e junto com elas trabalhar com seus filhos pequenos e com o envolvimento de toda comunidade.

A partir daí o território é valorizado, memórias culturais são reavivadas, valores são reafirmados, pontes são construídas, e transformações acontecem.

O Projeto Sementinha (ou “A escola debaixo do pé-de-manga”) é uma proposta de educação pré-escolar, destinada às crianças de 04 a 05 anos, não atendidas pela rede pública e particular. Este projeto iniciou-se em 1984, em Curvelo/MG, visando atender às crianças dos bairros mais carentes. Depois foi desenvolvido em Araçuaí/MG, São Francisco/MG, Porto Seguro/BA, Santo André/SP e Pinheiro/MA e agora, Chácara Santo Amaro/SP!

As metas do projeto são:

  • criar um novo conceito de educador-e-educando;
  • construir uma prática educativa inovadora

Para isso, optou-se por desenvolver uma metodologia que:

  • privilegiasse o “diálogo” como mediador das relações entre os participantes
  • priorizasse o respeito às diferenças individuais
  • valorizasse os saberes e fazeres de cada um
  • buscasse soluções coletivas e educativas para todas as questões vivenciadas pelos participantes
  • construísse uma educação aberta, plural e democrática
  • transformasse todos os espaços ocupados em “escola” e toda “escola” em “centro da cultura comunitária”

Resumidamente o Projeto Sementinha pode ser assim definido:

  • espaço-escola é o bairro;
  • o conteúdo escolar é a cultura da comunidade;
  • os educadores são todos os que participam do processo educativo.

Evolução do Projeto:

O ano de 2017 foi cheio de aprendizagens, ações motivadoras, envolvimento comunitário, parceria com a saúde e a educação local e boas surpresas!

Foi uma surpresa descobrir como duas comunidades do mesmo bairro, tão próximas uma da outra (São Nicolau e Vila do Sapo), pudessem reagir de forma tão diferente às oportunidades apresentadas pelo projeto e às iniciativas que apontavam benefícios para as crianças pequenas e moradores desses dois locais.

Quando o trabalho do Sementinha começou no final de 2015, a indicação da gerência e agentes comunitários de saúde da UBS era de iniciar a formação e implementar as ações pela área próxima ao ponto de ônibus principal, ao comércio mais estabelecido, à associação de moradores, à escolar estadual e à própria UBS.

O desafio foi grande frente ao pouco envolvimento dos moradores nas formações, da desconfiança com quem estava chegando de fora e com a resistência de alguns moradores que não queriam seus filhos e netos circulando pelo bairro. Assim mesmo, as ações foram experimentadas e desenvolvidas em quarto comunidades: Vila da Paz, Vila do Sapo (que mudou o nome para Vila das Flores durante o projeto), beco próximo à casa de uma liderança local e Parada Obrigatória.

Frente à dificuldade de aproximação com as crianças, a equipe decidiu se aproximar dos locais onde as crianças já estavam e assim chegou à Escola Estadual Hermínio Sachetta. A primeira proposta foi trabalhar dentro da escolar algumas metodologias como o Bornal de Jogos com os professores e depois desenvolver várias atividades semanais com as crianças da 1a série. Logo chegou o convite para trabalhar com a 6a série que apresentava as maiores dificuldades na escolar. Em 2017 as atividades de ampliaram para as crianças da 2a série e para atividades que envolvessem toda a escolar.

Assim as parcerias com as entidades foram sendo estabelecidas à medida que a equipe se apresentava e o Projeto Sementinha passavam a ser reconhecidos e respeitados. Logo veio o convite para compor a Rede Local com a escolar, UBS, CCA e o consequente envolvimento em reuniões e ações comunitárias como a Feira da Escola e o Projeto Oásis.

O processo foi muito significativo para a nossa permanência e enraizamento na comunidade!

Na Vila do Sapo o trabalho envolveu moradores com ações de permacultura, com pinturas dos muros das casas com tinta de terra e horta nos quintais até sessões de cinema na rua.

Mas ainda permanecia o maior desafio: chegar diretamente às crianças onde elas realmente moravam. Depois de um ano do projeto, em uma reunião de avaliação e planejamento com a nova gerente da UBS, conversando sobre a comunidade onde moravam mais crianças e com mais demandas, ela falou dos locais cobertos pela equipe, onde havia muitas dificuldades, incluindo a violência familiar. A recomendação era de que a equipe não deveria ir sozinho, somente acompanhado de profissionais da UBS. Isso logo aconteceu e descobriu-se na região comunidades sem nenhum equipamento municipal mas que, à primeira vista, revelava vários pontos luminosos.

Os desafios foram sendo senados aos poucos, de forma leve e rápida. As agentes de saúde foram apresentando moradores e lideranças religiosas da comunidade São Nicolau, que logo cederam espaço para formação e, até mesmo, para ponto de encontro com as crianças. Muito interessadas, queriam participar da formação com as crianças. Vislumbraram o Projeto Sementinha como um gerador de oportunidades e desenvolvimento para as crianças do bairro. Era um desejo e pensamento coletivo e solidário: “É preciso cuidar do meus filho e dos outros filhos do bairro.”

Assim as atividades de iniciaram no São Nicolau com atendimento direto das crianças, no primeiro momento nas casas de moradores e, após confirmar o interesse e potencial, foi alugada uma sede. A sede do projeto fez uma grande diferença, as pessoas passaram a enxergar que o Projeto realmente existia, mais crianças vieram, pessoas curiosas apareceram para conhecer e contribuir com algo.

A equipe da UBS pediu um encontro na sede, para que toda equipe 2 incluindo as enfermeiras, co­nhecessem o Projeto. Nesse encontro outras ACS se interessaram em levar o projeto para suas áreas de atuação, onde moram muitas crianças.

A meta para 2018 é atender em mais dois grupos. A aceitação da comunidade e o desejo de ampliação de atendimento no bairro são evidenciados por meio da presença das crianças, famílias e parceiros locais nas reuniões, eventos comemo­rativos – Dia das Crianças, Encerramento do Ano e do empenho das agentes de saúde para expandir o projeto.

No dia a dia já se percebe mudanças significativas nas crianças que no início pouco brincavam, nem mesmo conseguiam sentar em roda e ouvir as outras.

Em algumas crianças se reconhecia a tristeza no olhar; isso mexeu e motivou a equipe a dar carinho e afeto, gerando oportunidades de transformação e boas convivências.

Aos poucos os educadores ganham confiança e cumplicidade de algumas crianças que trazem outras. A conversa na roda tornou-se ferramenta para resolver situações de conflito ao invés das brigas. Os próprios educadores relatam como agora enxergam seu bairro de um novo jeito. Aprenderam e desenvolveram esse olhar cuidadoso e mais respeitoso para com o lugar onde moram e suas crianças.

Os jogos do bornal têm trazido evidentes transformações na aprendizagem das crianças, tanto em relação à convivência e carinho com o próximo como quanto à escrita e matemática. Há crianças que chegaram sem escrever corretamente o nome e que hoje querem ser os primeiros a assinar a lista de presença. Vale ressaltar o grande interesse pelos jogos matemáticos, que estão entre os prediletos!

As atividades com a reciclagem impactam no artesanato proposto pelos educadores, na produção de brinquedos e jogos, desenvolvendo aptidões e criatividade nas crianças diante do suposto lixo. O cuidado com o espaço e objetos é sempre incentivado pelos educadores e pelas crianças que já têm essa noção de apropriação coletiva.

Dessa maneira o Sementinha Comunidade Educativa vai se espalhando, enraizando e dando frutos na região!

Resultados em 2017:

Indicadores qualitativos:

  • Reconhecimento do Sementinha Comunidade Educativa no bairro e regiões de atuação
  • Demanda da Escola Estadual Hermínio Sachetta para retomar as atividades em 2017
  • Equipe comprometida com o trabalho
  • Equipe com visão ampliada da atuação do Sementinha no bairro, como ele pode ser gerador de oportunidade de aprendizagem e formação de pessoas
  • Boas relações com parceiros; respeito e ampliação das parcerias locais
  • Ampliação para nova área do bairro mais povoada e com apoio e validação da UBS
  • Recepção das agentes e mulheres muito positiva nos bairros São Nicolau e Novo São Norberto
  • Demanda da Escola Estadual Hermínio Sachetta para realizar atividades com outras séries
  • Contínua parceria com as agentes da UBS
  • Acolhimento das igrejas locais no São Nicolau
  • Participação em eventos comunitários
  • Crianças interessadas e melhorando sua aprendizagem a partir do uso de jogos
  • Interesse crescente das crianças pela leitura

Indicadores quantitativos:

  • 1 sede para o Projeto montada no mês de Agosto 2017
  • 6 reuniões comunitárias com a Comunidade de São Nicolau e Comunidade Novo São Norberto (52 participantes)
  • 2 reuniões de rede no Chácara Sto. Amaro
  • 25 casas com pintura de tinta de terra
  • 20 casas com prática de Permacultura (Vila das Flores)
  • 3 sessões de cinema com os filmes Divertida Mente, Moana e Pipo Fifi (60 participantes)
  • 20 reuniões de equipe com formação continuada
  • 1 formação com Tião Rocha (32 horas)
  • 204 oficinas com crianças (Jd. São Nicolau e Chácara Sto. Amaro)
  • 12 jogos: Torre de Hanoy, Matriz, Soletrando, Damática, Rapidinho, Jogo da Memória com Folhas, Jogo dos Palito , Jogo de montar quebra-cabeças
  • 35 levantamento de nomes de crianças para o novo grupo de Sementinha – Novo São Norberto
  • 1 horta mandala na Escola Estadual Hermínio Sachetta
  • 120 crianças atendidas – 40 participantes de 04 a 09 anos no Jd. São Nicolau e 80 crianças na Escola Estadual Hermínio Sachetta
  • 40 jardins em pneus feitos
  • 10 algibeiras de leitura
  • 152 livros recebidos de doação
  • 25 brincadeiras e cantigas: Velho Trem, Coelhinho Sai da Toca, Quem é o Maestro, Elefante Colorido, Pula Corda, Passa Anel, Boneca de Lata, Tocar o Cego, Ciranda, Serpente, Passarás, Rala Côco, Vó Chica, Tic-Tac, Pom, Queimada, Vampiro-Vampirão, Corre Cotia, Mãe da Rua, Duro-Mole, Esconde-Esconde, Onde Está, Com Quem Está, Carteiro, Melancia, De Abóbora Faz Melão, Futebol
  • 4 eventos comunitários: Oásis, Feira Cultural e Sarau CCA
  • 8 encontros de planejamento Oásis – Dia da Solidariedade
  • 2 oficinas comunitárias: Confecção de pomada, xarope e pastel de taioba
  • 1 oficina com professores da Creche São Norberto (24 participantes)
  • 20 livros lidos e discutidos
  • 40 mudas de remedios caseiros e flores produzidas com as crianças e plantadas em suas casas
  • 2 passeios no Sesc Vila Mariana e Ibirapuera – Apresentação do Ponto de Partida e Meninos de Araçuaí
  • 160 brinquedos e enfeites produzidos reutilizando material: Biboquê, Rabo de Cometa, Baragandão, Binóculo, Bolsinha de Pet, Borboleta de Copinhos, Máscaras de Balão e Revista, Chocalho, Dobraduras, Porta-Treco, Árvores de Natal

Depoimentos

“Eu estava com depressão quando a Patrícia me falou sobre a proposta de ter o projeto aqui no bairro. No começo eu não queria nenhuma responsabilidade, poise u já estava frustrada com a situação dentro da minha casa. Então minha filha de 9 anos me disse o quanto sou bonita e importante para ela, pois minha depressão também foi devido ao meu problema de obesidade. Assim percedi o quanto estava difícil para ela também porque ela estava com muitas responsabilidades; era mãe, irmã, filha, ela fazia tudo. Quando comecei a fazer parte do projeto fui percebendo o quanto sou importante, cada coisa que faço é valorizada! E as crianças nunca se importam com o fato de eu ser gorda ou por ter o cabelo curto. E assim mostro o que sei para as crianças e vou aprendendo também com elas, e venho descobrindo muitas coisas no projeto como, por exemplo, o quanto sou importante para mim mesma e quanto posso estar ajudando outras pessoas. Meu olhar mudou diante das coisas simples, das quais eu não dava valor. Hoje eu não preciso do dinheiro para sair e me diverter com os meis filhos, apenas faço um suco, pego umas frutas, vou ao parque e passo o dia com eles. A gente brinca, corro sem ter vergonha do meu corpo e vejo a felicidade dos meus filhos. Hoje minha filha de 9 anos é uma pessoa feliz; ela me ajuda com sugestões para atividades no projeto; hoje sim ela é criança! Não me vejo mais como uma pessoa obesa, me vejo como um ponto de luz! Tenho muito a fazer e aprender!”

Amanda Martins Fernandes (Educadora)

‘’Com a roda aqui no Sementinha, a gente tá aprendendo a respeitar mais as pessoas!’’

Samuel Wellington da Silva – 08 anos

“Eu percebi a mudança de comportamento da Ana Clara quando retornamos das férias. Nesse period ela falou que foi muito difícil para ela porque ela já estava acostumada com a rotina de vir ao projeto. Quando voltamos das férias ela veio diferente, mais amorosa e amiga e querendo ajudar em tudo, até na faxina do projeto. Ela organizou os jogos sem precisarmos pedir, depois deu um recado para a turma falando que quando eles terminassem de brincar com os jogos, que guardassem bem direitinho porque, se não cuidar, acaba estragando. Agora ela está fazendo muita leitura, ainda mais com os inúmeros gibis da Turma da Mônica que foram doados. Ela não para de ler e incentive os colegas, contando as histórias e fazendo com que todos fiquem curiosos e busquem ler os gibis.”

Amanda Martins Fernandes (Educadora)

“Gosto muito daqui, queria vir todos os dias, mas às vezes minha mãe não deixa. Gosto também de inventar, que nem ontem quando a gen­te fez o tapetinho de canudo com revista. Aqui já aprendi dividir os brinquedos, o lanche, os livros. Já ensinei duas brincadeiras para os meus irmãos e amigos da escola, foi o tic-tac-pom-pom e o vivo-mor­to. Ontem também aprendi o jogo do bornal, só que tenho que treinar o jogo Descobre e Cobre. Aí antes da gente ir embora fazemos a roda pra saber como foi o dia, a gente faz isso todo dia!”

Mariah Cláudia Oliveira Santos – criança do Sementinha

“Acho o projeto legal, aprendo brincadeiras, tem tantas coisas que já aprendi, acho que aprendi umas 27 brincadeiras, acho pouco ainda. Já ensinei a fazer barquinho e um passarinho de papel. Se eu puder posso ensinar o pessoal a fazer uma flor de papel, só preciso de uma caneta e uma folha, só que preciso treinar um pouco porque na primeira vez que eu fiz não deu muito certo. Só não gosto muito de ler, porque não sei ler muito bem, mas posso ir treinando com os gibis novos. Outra coisa que não gosto muito é ir pra escola porque lá tem muita violência.”

Breno Diego Ferreira da Silva – criança do Sementinha

“Eu conheci o Projeto através da Mariah, ela me disse que participava de um projeto legal, aí eu e o meu irmão Bruno veio visitar e gostamos. O que eu mais gosto é de brincar, participar das atividades e levar livro para casa, por isso adoro as algibeiras, porque eu amo ler. Me sinto muito feliz quando podemos levar os livros para casa e depois contar para o pessoal a historia. Amo ajudar, aqui no projeto sempre estou ajudando a tia a entregar os lanches, não só aqui dentro mas fora do projeto também ajudo quando o meu irmão e a Mariah brigam e eu ajudo a resolver. Uma das brincadeiras mais brincadas aqui foi eu que inventei, foi o roda-roda-jequiti, meu irmão trouxe pra cá e todos brincam agora. Não gosto muito quando vou falar e não me escutam, porque quando falam eu escuto. Se eu pudesse mudaria o comportamento de algumas crianças.”

Natiely Ferreira da Silva – criança do Sementinha

“O que mais gosto no Sementinha é brincar. Uma das atividades que mais gostei, foi do rabo do cometa, que tenho até hoje e o apoio de panela. Outro dia eu pedi para todas as crianças arrumar as coisas bagunçadas, porque não é legal deixar bagunça, porque aprendi a ser organizada. Eu gosto muito de ler e o que mais gosto é dos gibis da turma da Mônica. Eu gosto também de Sementinha depois da escola. Eu ficava dormindo e assistindo Tv, não gosto de ficar em casa o dia todo. Mas eu amo esse Sementinha, desde do primeiro dia!”

Ana Clara de Jesus Santos – criança do Sementinha