Periferia sul de São Paulo polui menos que bairros ricos e centrais

A Fundação ABH atua em prol do desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo e, um de seus papeis, é destacar as positividades do território.

No post de fevereiro de 2024, trouxemos as informações mais impactantes sobre a região sul da capital paulista que foram pontuadas no Mapa da Desigualdade 2023. Destacamos indicadores que apontaram resultados negativos para os bairros do Campo Limpo, Grajaú, Jardim Ângela, Cidade Ademar e Capão Redondo.

No artigo de hoje, abordaremos um dado igualmente impactante, porém extremamente positivo e relevante para o território: o de que as periferias de São Paulo poluem menos que bairros ricos e centrais, citando os distritos com maior destaque e as principais razões que contribuem para o ar da zona sul ser um dos mais limpos da cidade.

Os bairros que menos poluem estão nas periferias

De acordo com o Mapa da Desigualdade 2023, estudo realizado pela Rede Nossa São Paulo, entre os 15 distritos da capital paulista que menos poluem, todos estão nas periferias, sendo quatro deles no sul e extremo sul do município: Marsilac, Parelheiros, Grajaú e Pedreira.

Como podemos observar no gráfico, o grande destaque do levantamento é Marsilac, no extremo sul da capital paulista, onde foi detectada emissão zero de poluentes. Parelheiros vem na sequência com 0,03. Grajaú está na quinta posição (0,06) e Pedreira ficou em 14º lugar (0,16).

No contraponto, os bairros que mais emitem poluentes na atmosfera são: Lapa (0,52), Jardim Paulista (0,53), Brás (0,55), Pinheiros (0,57), Itaquera (0,60), Barra Funda (0,62), Santo Amaro (0,66), Bela Vista (0,74), República (1,16) e Sé (1,53).

É importante destacar que o Mapa da Desigualdade considera a poluição somente sob a ótica da queima de combustível, estimando quantos quilogramas de fuligem por quilômetro quadrado (kg/m2) foram liberados no dia de análise com base nos dados levantados pelo IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente).

Por que o ar na periferia sul é mais limpo?

Em entrevista à Agência Mural, o engenheiro elétrico e pesquisador do IEMA, Felipe Barcellos e Silva, explicou que as emissões de poluentes foram maiores em bairros centrais e ricos, pois é onde circulam mais ônibus e há mais trânsito: “A emissão é reflexo da quilometragem percorrida pelos veículos, além da diminuição da velocidade média da circulação”.

A SPtrans informa que cerca de 6.400 veículos, de diferentes linhas de ônibus, percorrem diariamente a região central da cidade de São Paulo; já nas periferias são aproximadamente 5.400 mil veículos em circulação, em geral de menor porte.

No entanto, trazemos aqui outros motivos pelos quais as periferias de São Paulo podem ter níveis de poluição relativamente menores em comparação aos bairros ricos e centrais.

Pulmão Verde da periferia sul de São Paulo

Algumas periferias têm mais áreas verdes e espaços abertos em comparação com os bairros centrais densamente urbanizados. Na periferia sul de São Paulo, um grande exemplo de preservação ambiental são os distritos de Parelheiros e Engenheiro Marsilac que abrigam uma extensa área de Mata Atlântica preservada, juntamente com a Serra da Cantareiro no extremo norte, é uma das últimas áreas remanescentes desse bioma na cidade que correspondem à 54,13% da cobertura vegetal do município.

Considerada o Pulmão Verde da zona sul de São Paulo, essa área verde é conhecida por sua rica biodiversidade e por desempenhar um papel crucial na conservação ambiental e na proteção dos recursos naturais da região, incluindo uma variedade de habitats como florestas densas, nascentes de rios, riachos e cachoeiras, que proporcionam abrigo a uma grande diversidade de espécies de flora e fauna nativas. Algumas das espécies encontradas nessa região incluem árvores como a canela, o palmito-juçara, o jacarandá e a peroba, bem como uma variedade de animais, como aves, mamíferos, répteis e anfíbios.

Além de sua importância em termos de biodiversidade, a mata de Parelheiros e Engenheiro Marsilac desempenha papel crucial na regulação do clima local, na proteção dos recursos hídricos e na melhoria da qualidade do ar, tanto pelo fator natural que a região apresentando quanto a atividade humana, já que a região é pouco povoada, mas rica em atividades agrículas.

De acordo com o “Atlas Ambiental do Município de São Paulo”, a temperatura pode variar em até 6ºC entre um bairro e outro. Em 2019, o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo (CGE) apontou uma variação ainda maior, de 10ºC, entre os distritos de Itaim Paulista (Zona Leste), onde os termômetros registravam 39,6ºC, enquanto em Engenheiro Marsilac, no mesmo período de tempo, fazia 29,7ºC.

Além disso, a região oferece oportunidades para recreação ao ar livre, como trilhas para caminhadas, observação da vida selvagem e atividades de ecoturismo, contribuindo para a qualidade de vida dos moradores locais e para o turismo sustentável na região.

A mata de Parelheiros e Engenheiro Marsilac desempenha um papel significativo na preservação da qualidade do ar na região sul de São Paulo, contribuindo com:

Filtragem de Poluentes: As árvores, e outras plantas na mata, atuam como filtros naturais, capturando poluentes do ar, como dióxido de carbono, óxidos de nitrogênio e partículas em suspensão. Isso ajuda a melhorar a qualidade do ar, reduzindo os níveis de poluição na região, ou seja, se não fossem as árvores no entorno, a temperatura de São Paulo seria ainda mais alta do que já é hoje, consequentemente o ar seria ainda mais seco, não teríamos água nem um ar possível de ser respirado.

Produção de Oxigênio: A mata é um importante produtor de oxigênio por meio da fotossíntese. As árvores absorvem dióxido de carbono e liberam oxigênio, contribuindo para aumentar os níveis de oxigênio no ar e melhorar a qualidade do ar para os habitantes locais.

Absorção de Carbono: As árvores também desempenham um papel crucial na captura e armazenamento de carbono, ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Isso é importante para reduzir os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera e combater o aquecimento global.

Regulação do Microclima: A cobertura vegetal da mata ajuda a regular o microclima local, criando áreas mais frescas e úmidas. Isso pode ajudar a reduzir a temperatura ambiente e fornecer alívio durante os dias quentes de verão, contribuindo para o conforto dos moradores locais.

Preservação de Nascentes: A mata de Parelheiros e Engenheiro Marsilac abriga nascentes de rios e riachos, que são importantes para o abastecimento de água da região. Ao proteger essas áreas de mata, também estamos protegendo as fontes de água locais e garantindo a qualidade da água para as comunidades.

Vale lembrar que, na matéria anterior, falamos mais profundamente sobre as riquezas naturais da Ilha do Bororé, localizada no distrito do Grajaú, bairro do extremo sul da cidade de São Paulo, dentro de uma APA (Área de Preservação Ambiental), bem como exploramos os bairros adjacente, Parelheiros e Marsilac, e destacamos iniciativas que atuam em prol da preservação ambiental e do desenvolvimento da região. 

Convidamos vocês para lerem o conteúdo, conhecer os projetos que movimentam o território e descobrir que não precisamos ir muito longe ou mesmo viajar até outra cidade para poder curtir a natureza e seus benefícios. Bem pertinho da cidade grande, você pode conhecer uma região de área rural, que mais parece um município interiorano em meio a selva de pedra da cidade, onde o asfalto dá lugar à estradas de terra, as casas à plantações e os carros à cavalos. Aproveitem para contar para gente o que acharam do local.

Por falar em movimento, se você tem uma iniciativa na periferia sul de São Paulo que trabalha para melhorar essas e outras questões da comunidade, faça seu cadastro no Mapa PerifaSul 2050! Vamos juntos mostrar para todos a potência que a periferia sul tem!

Gostou do artigo de hoje e quer contribuir para o desenvolvimento da periferia sul de São Paulo? Fique ligado nos nossos canais de comunicação para acompanhar nossa atuação. Aproveite e apoie a Fundação ABH para possamos ampliar essa rede e gerar ainda mais impacto na periferia sul de São Paulo.