Expansão da linha lilás do metrô: 10 de anos de luta, mas a conquista ainda está longe de ser alcançada

O Governo do Estado de São Paulo anunciou no dia 23 de março de 2021 a expansão da Linha 5 – Lilás do metrô até a região do Jardim Ângela, periferia sul da capital paulista.

De acordo com o comunicado, o projeto prevê a construção de duas novas estações: “Comendador Sant’Anna” e “Jardim Ângela”, próximo ao Hospital Jardim Ângela. Além disso, prevê a construção de um novo terminal de ônibus na região, já antecipando o aumento da demanda de passageiros que a nova estação de metrô trará. O novo trecho terá cerca de 4,33 Km e a expectativa é beneficiar por volta de 130 mil usuários.

Segundo José Jailson, Coordenador da Organização SOS Transportes M’Boi Mirim, a expansão será benéfica para os moradores do Jardim Ângela e adjacências, pois fará o importante trabalho de encurtar a distância de deslocamento entre esses moradores e o centro de São Paulo. “São nos bairros mais centrais que estão localizados os empregos, as faculdades e os espaços públicos”, diz o coordenador.

Livani Teixeira, 42 anos e moradora do Jardim Ângela, acredita que a expansão permitirá que as pessoas economizem tempo. “Vejo como um avanço enorme para as pessoas que moram na periferia e trabalham no centro da cidade; vai desafogar o trânsito e fazer todo mundo economizar tempo. Os moradores dos bairros próximos como Vera Cruz, Horizonte Azul, Nakamura e Jacira não vão gastar mais 3h por viagem de casa ao trabalho e vice-versa”, diz a dona de casa.

 

Conheça a Organização SOS Transportes M’Boi Mirim

A Organização SOS Transportes M’Boi Mirim foi criada em 2009 com o objetivo de lutar por transporte e mobilidade de qualidade na região. Além disso, a estrada do M’Boi Mirim também é passagem para moradores de outros bairros, sendo assim, a luta por melhorias nessa via afeta a vida de diversas pessoas.

Os idealizadores do movimento contam que lutam pela expansão da linha lilás do metrô há mais de 10 anos e, mesmo com o anúncio divulgado pelo Governo, não vão parar de lutar.

De acordo com Genésio da Silva, um dos coordenadores do movimento, ainda existe uma desconfiança pelo anúncio, uma vez que o próximo ano é de eleição. “Então precisamos ficar atentos para não ser mais uma jogada política como já fizeram em gestões anteriores”, diz ele.

O movimento SOS Transporte M’Boi Mirim deixou claro que não parará de cobrar os responsáveis até que a obra esteja completamente concluída. “Vamos continuar lutando para que o projeto de fato saia da gaveta e seja executado para atender a nossa população do Jardim Ângela e Capão Redondo”, encerra Genésio.

O movimento é reconhecido na zona sul de São Paulo e tem sido personagem de destaque em diversas gestões, buscando sempre por melhorias no transporte de São Paulo.

 

Novas construções alinhadas às duas novas linhas de metrô

A Linha 5 – Lilás começou a ser construída em 1998 e foi entregue 4 anos depois, em 2002, com a ligação das estações Capão Redondo e Largo Treze. De acordo com o projeto, a linha estaria inteiramente pronta até a estação Chácara Klabin em 2014. Entretanto, a linha só foi entregue no segundo semestre de 2018 juntamente com a estação Santa Cruz.

Segundo dados divulgados pelo Governo do Estado de São Paulo, a estação Comendador Sant’Anna será construída de forma elevada na avenida de mesmo nome. Um grande avanço para os moradores e, especialmente, para os comerciantes que moram nessa região.

Já a estação Jardim Ângela ficará localizada no subterrâneo, fazendo conexão ao terminal já existente da SPTrans e ao novo terminal que ainda será construído. Dessa forma, o Governo pretende absorver a demanda e o fluxo de passageiros na região.

Roseval Caetano, também Coordenador da Organização SOS Transportes M’Boi Mirim, acredita que o novo terminal não será suficiente para conter a demanda, porém, ajudará na melhora do transporte na região. “No meu ponto de vista, vai sim melhorar (o novo terminal), mas com o passar do tempo não será suficiente”, diz ele.

Para que o projeto possa, de fato, ser executado, a Avenida Carlos Caldeira Filho precisa ser prolongada do Capão Redondo até a Estrada do M’Boi Mirim. Já é sabido que, por conta dessa expansão, serão necessárias desapropriações e remoções de interferências.

A dona de casa, Livani, mora em frente ao Terminal Jardim Ângela, área possivelmente sujeita a desapropriação e, apesar de acreditar que a expansão seja um avanço para a região, também pensa que poderá ser ruim para ela e seus vizinhos. “Existem várias famílias morando em quintais de terrenos compartilhados e não acredito que o governo dará suporte para todos, além do fato de que eu gostaria de utilizar a expansão da linha, mas tendo minha casa desocupada, terei que morar em outra região que provavelmente não me dará acesso à linha lilás” diz ela.

 

Quando os paulistanos poderão utilizar as novas estações?

Segundo o Governador de São Paulo, João Dória, é muito importante que exista um início breve das obras. “Primeiro para demonstrar que a obra de fato vai seguir seu ritmo, segundo porque, em um período tão duro de pandemia, quando vem uma obra que vai ajudar a mobilidade da população mais carente, mais vulnerável a chegar mais rápido ao trabalho e a voltar logo pra casa, é uma esperança”, diz o Governador.

No entanto, ainda será preciso que os paulistanos esperem cerca de 2 anos para que as obras sejam iniciadas. Isso ocorre, pois desde o dia 23 de março, data em que o Governador assinou o contrato de execução da obra, se iniciaram os estudos de elaboração dos projetos funcionais das obras civis e sistemas, seguido dos projetos básico e executivo. O prazo de entrega dessas projeções é de até 24 meses.

O coordenador, José Jailson, diz que as expectativas para a conclusão desse projeto não são nada boas, uma vez que a linha 5 lilás já foi objeto de diversos atrasos e questionamentos judiciais, ainda que hoje ela esteja concluída.

“Essa promessa do metrô Jardim Ângela já se arrasta por 10 anos, então as nossas expectativas não são nada animadoras. O Governador João Dória já prometeu essa linha muitas vezes, a exemplo da duplicação da M’Boi Mirim, e até agora nada saiu do papel”, diz ele.