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Entrevista com Francielle Meirelles do projeto Karatê D’Quebrada

A jovem de 27 anos nasceu em Vitória, no Espírito Santo, mas mudou-se para a cidade de São Paulo aos seis anos de idade, onde vive desde então no distrito do Capão Redondo. E foi na periferia sul de São Paulo que a capixaba teve a oportunidade de se conectar com meios diversos para transformar sua vida, das pessoas e o mundo.

Francielle trabalhou na Ação Comunitária do Brasil, que hoje atende pelo nome de Vocação, um projeto de mediação de leitura que a impulsionou a ler para crianças. Lá, foi criado o Núcleo de Comunicação Ação Multi Jovem, onde conheceu Tony Marlon que a convidou para ajudá-lo a desenvolver a Escola de Notícias, no Campo Limpo, uma parceria que a possibilitou conhecer outras pessoas e iniciativas que visam o desenvolvimento comunitário local.

Em busca de sair da sua zona de conforto, Fran, como é conhecida, mergulhou em outras oportunidades ao conhecer a Outward Bound Brasil que promove educação ao ar livre e lhe proporcionou um curso de primeiros socorros em lagos, rios e matas na Romênia. Mais que isso, ela teve a oportunidade de se reunir e trocar ideias com representantes de diferentes países sobre como eles gostariam que fosse o mundo e como poderiam agir para melhorá-lo.

Formada em Design, hoje Fran atua em diferentes projetos como o Embarque no Direito, uma iniciativa jornalística que traduz o direito para moradores do Capão Redondo e Campo Limpo, e o Karatê d’Quebrada – uma escola colaborativa preparada para atender e motivar os jovens através do esporte bem como criar o primeiro centro esportivo do Campo Limpo e assim oferecer diversas modalidades esportivas para quem possa interessar – este último, com o qual participa do Edital aTUAção PerifaSul 2020.

 

Conheça mais da trajetória de Fran como agente de transformação.

Leia a entrevista na íntegra abaixo

Conte-nos um pouco de sua trajetória até chegar em São Paulo e como foi essa experiência inicialmente?

Meu nome é Francielle, eu tenho 27 anos, sou moradora do Capão Redondo. Sou capixaba, nasci no Espírito Santo, vim pra cá quando tinha seis anos de idade. Lembro que era um lugar bem complexo de se morar por causa da violência, mas também era o lugar mais legal que eu já tinha morado.

Como foi seu processo de se descobrir como agente transformadora?

Em 2002, comecei a estudar na Ação Comunitária do Brasil e passei a ler para as crianças. A partir dali passei a fazer mediação de leitura, comecei a participar de projetos de audiovisual, a querer entender o meu bairro, a querer me entender como indivíduo.

Como foi sua experiência na Romênia e o impacto dela em sua vida e em seu trabalho na periferia sul de São Paulo?

Comecei a trabalhar no terceiro setor, participei do projeto Primeiras Letras, logo em seguida rolou um projeto de comunicação e eu conheci o Tony Marlon e o projeto que ele me apresentou era incrível! Nossa, uma escola de comunicação pensada pela periferia. Ele me indicou para um curso que era com a Mariana da Outward Bound Brasil e o Velame.

Conheci a Mariana e no primeiro dia ela virou pra mim e falou assim: “Vamos pra Romênia?” Eu falei: “Vamos!”. E aí chegamos lá na Romênia e foi outro processo de transformação incrível. A gente foi pra assistir um curso e quem ministrou o curso fomos eu, o Bruno e a Mariana.

Voltei com um outro olhar, um olhar ainda mais forte de que a periferia é potência em qualquer lugar e mais forte no Brasil do que nos outros lugares, porque a gente tá sempre olhando pra tudo, sempre pensando nessa dificuldade, ela não te deduz, ela não te coloca dentro de uma caixa.

Você está participando do Edital aTUAção PerifaSul 2020 com um dos projetos em que atua, o Karatê D’Quebrada. Qual a importância desse processo para a sua iniciativa, para você como ser humano e como avalia o papel da Fundação ABH nesse processo?

A Fundação ABH tem conseguido fazer isso, olhar muito mais do que só um projeto, olhar para o ser humano como indivíduo, dentro do que a gente trabalha, dentro daquilo que a gente tem visto. Me trouxeram a oportunidade de conhecer mais sobre mim mesma, sobre quem eu quero ser e sobre o que eu quero fazer, porque, simplesmente, não sou só eu. Pra você ter qualquer transformação humana e de sociedade a mudança não vem do outro, a mudança vem de você lavar o seu próprio prato. Você lavando o seu próprio prato já é uma grande mudança.