Meio ambiente é pauta do PerifaSul 2050 e organizações sociais do território

No Brasil, um dos maiores desafios relacionados ao meio ambiente é o tratamento de resíduos sólidos, sendo considerado o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, com 11, 3 toneladas por ano, de acordo com pesquisa da WWF (World Wildlife Found).

Segundo dados apurados pela PROTESTE, apesar de ter implementado uma Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2011, para diminuir o volume total de resíduos produzidos nacionalmente e aumentar a sustentabilidade da gestão de resíduos sólidos em todo o país, o Brasil recicla apenas 3,85% de seus resíduos nacionalmente.

Problemas relacionados com reciclagem são apenas uma das diversas preocupações apontadas pelo projeto PerifaSul 2050, organizado pela Fundação ABH juntamente atores locais e com o apoio do IDIS, baseado na metodologia do desenvolvimento comunitário local. Desde fevereiro de 2021, o PerifaSul 2050 tem trazido para a pauta de discussão, entre outros temas, problemas ambientais nas comunidades e pensado em ações que possam solucioná-los.

Algumas das preocupações evidenciadas nas reuniões do projeto são: limitação da coleta de lixo reciclável, falta de conhecimento sobre separação de lixo, construções sustentáveis, poluição dos córregos e o impacto ambiental que ações sustentáveis, ou falta delas, podem trazer.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), 76% dos brasileiros entrevistados admitem não fazer qualquer separação de resíduos em suas residências. A pesquisa também apontou que 66% dos entrevistados disseram saber pouco ou nada sobre coleta seletiva e reciclagem.

Apesar da falta de conhecimento e até mesmo vontade de alguns brasileiros de buscar informações e praticar a reciclagem em seus lares, é preciso destacar que nem todos têm essa oportunidade, uma vez que 17,8 milhões de pessoas no Brasil não têm coleta de lixo em casa, muito menos reciclagem.

O PerifaSul 2050 aponta a importância do descarte correto do lixo (divisão correta do lixo orgânico e reciclável), propondo formações sobre o tema e ações sobre reciclagem consciente e compostagem. A compostagem é uma ação sustentável e extremamente necessária, especialmente nas periferias, evitando o acúmulo de lixo e pragas que se alimentam de sobras, tal como os ratos.

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), dos resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil, 51,4% constituem-se por resíduos orgânicos. Isso corresponde a um valor de quase 37 milhões de toneladas de lixo orgânico produzidas por ano no país, de cujo total apenas 1% é reaproveitado (Assemae, 2019).

Pensando sempre no todo, o PerifaSul 2050 também busca a melhoria e preservação de espaços públicos nas comunidades por meio de ações coletivas realizadas pelos próprios moradores, mostrando que a preservação do meio ambiente é um tema bem amplo e que pede a ajuda e cooperação de todos. Segundo o Indicador de Consumo Consciente (ICC), no Brasil 31% da população pode ser considerada de ‘consumidores conscientes’, e 55% se encaixa nos ‘consumidores em transição’. Ou seja, ainda há esperança.

Na Zona Sul de São Paulo, existem diversos projetos que visam oferecer ferramentas e informações para os moradores começarem a praticar ações sustentáveis em suas vidas, contribuindo diretamente para a resolução de problemas mundiais, afinal, o meio ambiente é de todos. Megê Design Sustentável e o Quebrada Orgânica são dois projetos, de muitos existentes, que se destacam com ações ligadas à questões ambientais

Megê Design Sustentável 

Megê Design Sustentável é um grupo interdisciplinar de artistas, arquitetos, construtores e projetistas que desde 2011 vem atuando  junto com comunidades, empresas e instituições para desenhar e executar projetos sustentáveis com menor impacto ambiental possível.

A ênfase principal do grupo está no desenvolvimento de projetos de bioarquitetura, urbanismo socioambiental, manejo ecológico de águas servidas, intercâmbio multicultural e cursos de capacitação técnica, favorecendo o protagonismo socioambiental e sociocultural.

Diogo Menezes, criador do Megê, conta que o projeto teve origem depois de pensamentos e autocríticas sobre diferentes temas relacionados ao viver sustentável, como modo de consumir, vestir, se alimentar, entre outras coisas. 

Ele conta que pesquisou sobre movimentos e outros projetos que eram focados na sustentabilidade e até visitou assentamentos e quilombos. “Tive algumas experiências com assentamentos e quilombos e fui entendendo que a periferia era uma mistura de tudo isso e fui resgatando o meu ambiente, o ambiente que eu vivo”, diz ele.

O grupo trabalha com todos, desde escola até instituições, e é dessa forma que conseguem sustentar o projeto e a si mesmos.

“A gente pensa que a nossa ação tem que multiplicar, principalmente na questão de conscientização e reencantamento, fazer as pessoas repensarem seus hábitos. Atuamos de onde a gente vem, da periferia, família de nordestinos, mineiros, negros, indígenas, eu acredito que tenho esse papel de colaborar e resgatar aquilo que nos foi roubado”, conta Diogo. 

Pensando na preservação do meio ambiente e em pequenas atitudes que podem fazer toda a diferença, Diogo fala sobre o conceito de ciclos infinitos e a importância de utilizar e reutilizar um recurso.

“Nós acreditamos nos ciclos infinitos, não peguei a água da chuva só para limpar o quintal, mas foi para lavar a roupa, regar minha planta e eu trato essa água novamente, devolvo essa água que volta em formato de chuva de novo, é um ciclo infinito”, diz ele.

 

Quebrada Orgânica

O Quebrada Orgânica foi criado depois do “Enjoy Orgânicos” que é um delivery de orgânicos mais econômico para os moradores da periferia da Zona Sul de São Paulo. “A gente queria trazer o acesso ao alimento orgânico na quebrada, a gente sabia que não tinha, você tem que cruzar a ponte para comprar um orgânico”, diz Joyce Zauri, criadora do projeto.

No entanto, mesmo com o delivery a um preço mais acessível, ainda havia famílias que não estavam sendo impactadas pelo projeto. E foi pensando nessa necessidade de expandir a ideia e compartilhar conhecimentos que surgiu o Quebrada Orgânica.

Com o Quebrada Orgânica as famílias da comunidade passaram a ter acesso a produção de composteiras a partir de objetos que se tornariam lixo e oficina de compostagem em suas casas, contribuindo com a redução da produção de lixo e buscando o total aproveitamento dos alimentos.

“A gente também não queria chegar na casa da pessoa e falar ‘vamos fazer uma horta para você’, a gente quer trabalhar com todo o ciclo do alimento, e isso passa também com o que você faz com o resíduo do alimento” diz Joyce.

Antes da pandemia, entre 2019 e 2020, juntamente com o Robert Placides e o Luiz Henrique de Jesus, também criadores do projeto, conseguiram distribuir 200 composteiras.

“Nós dávamos uma oficina para a pessoa de como compostar e se ela não tinha o que compostar já ficava a reflexão ‘se você não tem o que compostar, o que você está comendo?’”, conta a idealizadora do projeto. 

Com a pandemia da Covid-19 o projeto mudou de cenário e ficou um pouco mais flexível financeiramente, pois a demanda aumentou muito. Segundo Joyce, o projeto deixou de trabalhar pensando em obter lucro, pensando no momento da pandemia e na necessidade dos moradores.

“A pandemia trouxe uma demanda maior para nós, pois tudo que a gente fazia já era em torno de distribuir alimento na quebrada, já era em torno de trabalhar a melhor alimentação das pessoas na quebrada. E de repente as necessidades deles têm ficado mais latentes” diz Joyce. 

site da Quebrada Orgânica oferece todo o conhecimento necessário para que o morador possa começar o projeto na sua própria casa, dando o primeiro passo rumo à sustentabilidade. E ainda que os espaços sejam escassos, é possível reaproveitar diversas coisas e lugares e investir na compostagem, seja no pneu, na parede, no vaso, em um cantinho de terra, na telha, no beiral da laje, não faltam opções.

“Estamos sempre dizendo para as pessoas ‘Não espera eu ir aí, faz!’. A gente também não tinha como fazer, a gente começou sem recursos, sem meios e é o começar a fazer que faz as coisas funcionarem”, diz a Joyce. 

Outros projetos que atuam em prol do meio ambiente

Além desses projetos, é possível encontrar diversos outros que também estão focados, de diferentes formas, na produção ou utilização sustentável. O Instituto Favela da Paz está há mais de 20 anos investindo na criação de uma comunidade de paz onde as pessoas possam viver no respeito mútuo dentro dos princípios da sustentabilidade. O projeto é multidisciplinar com base em cinco pilares de Arte & Cultura, Ecologia, Espiritualidade, Tecnologia e Equidade Social, que estão interligados em todos os ramos diferentes do projeto.

Também vale a pena dar uma olhada no Instituto Auá, focado em empreendedorismo socioambiental, que é uma ONG que nasceu associada à criação do Programa de Jovens – Meio Ambiente e Integração Social, em 1997, ainda como Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica (AHPCE) e atua no cinturão verde de São Paulo, fomentando ações como, por exemplo, a Rota do Cambuci. Sempre manteve a agroecologia como importante frente de atuação, visando a sustentabilidade dos processos produtivos e o fortalecimento de políticas para a agricultura familiar e orgânica.

Origem da data

O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado no dia 5 de junho e tem como objetivo criar uma postura firme e consciente em relação aos problemas ambientais existentes no mundo. 

Criada em 1972, na Assembleia Geral das Nações Unidas, a data marcou a abertura da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, conferência essa que ficou conhecida como Conferência de Estocolmo.

Nessa Conferência, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e apresentou a Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, que apresenta princípios que visam à melhoria da preservação do meio ambiente.

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Até o próximo post!