Por que é tão poderoso investir em empreendedores sociais?

Nós da Fundação ABH temos em nosso DNA moldar nosso fazer baseado na escuta ativa dos atores locais, de maneira a tentar minimizar suas dores e potencializar seus sonhos!

Um desses atores locais, por quem temos grande respeito e admiração, é o Tony Marlon. Ele sempre trouxe provocações construtivas nas inúmeras conversas que tivemos, mas uma em específico sempre aparecia, não apenas nas conversas com o Tony, mas com outros atores também.

Você já parou para pensar na diferença entre investir em projetos e investir em pessoas? É claro que não existem projetos sem pessoas, nem pessoas sem projetos, mas as pessoas que os desenvolvem existem para além das iniciativas em que atuam. Um projeto tem começo, meio e fim, mas, ao investir em uma pessoa, você investe na causa que ela tem no coração que, além de não ter fim, pode estar multiplicada em inúmeras iniciativas e projetos!

Vamos tomar como exemplo o Edital aTUAção PerifaSul, que encerrou sua edição mais recente em outubro de 2021. Quando a Fundação Alphaville, o Instituto Jatobás, a Macambira Sociocultural e a Fundação ABH propõem que uma ou mais pessoas se inscrevam para participar dessa ação, não há apenas um interesse em desenvolver uma iniciativa ou projeto. O grande objetivo é oferecer uma oportunidade para construir não só algo em benefício do desenvolvimento comunitário local, mas é, principalmente, um convite para que os participantes embarquem numa jornada de autoconhecimento para se reconhecerem como agentes capazes de promover a transformação social através de suas paixões e mudar não só o território, mas também a própria história.

Isso porque, ninguém se entrega à realização de um projeto sem estar apaixonado por ele e por tudo que o envolve, se não for algo que lhe encha os olhos e o coração e quando você investe nos sonhos e paixões de alguém que quer construir algo, que deseja transformar, o resultado pode ser exponencial.

 

Porque investir em pessoas?

O jornalista, educador, comunicador popular, empreendedor, facilitador de processos e Consultor em Projetos de Impacto Socioambiental Tony Marlon afirma que, graças ao dinamismo e avanço do campo social no Brasil, hoje existem diversas instâncias de investimento social.

Marlon pontua que o alcance desse investimento varia de acordo com a concentração de recursos de cada região do país, quando se fala de iniciativa pública. Por outro lado, existem as fundações e institutos que dedicam recursos e atenção para que projetos e ações consigam acessar determinadas oportunidades de fortalecimento econômico.

No entanto, o educador lamenta que, em meio a essa cenário, o investimento em empreendedores sociais ficou para trás e ressalta a importância de recuperar esse hábito:

“Quando a gente constrói possibilidades de sustentação econômica para um empreendedor ou empreendedora de uma favela, periferia ou do campo, do meio rural, por exemplo, a gente não tá investindo em um projeto, a gente tá investindo numa visão de futuro e a gente tá investimento num projeto coletivo de território”, explica Tony Marlon.

O comunicador popular destaca também que o trabalho de articulação de empreendedores sociais no território é essencial para que os seus projetos e ações aconteçam:

“Eles [empreendedores] articulam com diversos entes para fazer o seu projeto acontecer, porque é isso, o seu projeto, o projeto dessa pessoa, não é o CNPJ que ela lidera, o projeto dessa pessoa é o território e para transformar esse território, ela precisa articular com diversas organizações diferentes e com diversas linguagens”, aponta o jornalista.

Entretanto, Marlon comenta que existem muitas pessoas liderando diversos projetos, mas que, ao receberem financiamento de uma instituição, não conseguem prover remuneração para si mesmos. quando recebem o financiamento de uma instituição, por exemplo, vem lá: “Em um trabalho de 40h semanais, ela consegue pagar 10h, 12h e todo o restante não tem quem pague”.

Na sequência, o empreendedor aponta os três motivos pelos quais defende o investimento nas pessoas:

“Um, ao financiar essa pessoa ela vai ter tempo de articular outras coisas, ou seja, ela vai potencializar muito mais a organização dela; dois, ela vai conseguir ter tempo para articular coisas que desenvolvam o território e três essa pessoa consegue sair da gestão das urgências”, pontua o comunicador.

O consultor em projetos explica que essa situação é diferente quando se trata de alguém que cria um projeto, principalmente não sendo da periferia, e se dedica integralmente a desenvolvê-lo e fazer com que ele tenha escala a nível nacional. “Isso não é a função do empreendedor social de periferia, de favela. Essa pessoa está preocupada com os fins públicos de suas atitudes e não com os fins privados”, comentou o educador.

O comunicador reafirma a necessidade e importância do investimento em pessoas para desenvolvimento de projetos e construção de novas perspectivas de futuro tanto para o território, quanto para os agentes transformadores e empreendedores.

“Nós precisamos criar uma política, pública ou privada, mas uma política que consiga deslocar empreendedores e empreendedoras sociais da gestão das urgências. Essas pessoas precisam ter tempo para construir um projeto de futuro e isso só acontece se elas tiverem condições econômicas de se dedicar a isso, porque se não ela vai estar o tempo todo correndo atrás do dia de amanhã, ela não consegue nem pensar daqui a três, quatro meses”, destaca o jornalista.

Por que acreditar e fomentar o potencial humano?

Além da visão socioeconômica sobre o investimento em pessoas, o aspecto psicossocial também é fundamental para que os empreendedores sociais fortaleçam suas ações no território.

Para o educador e terapeuta da Periferia Sul de São Paulo Billy de Assis, todo ser humano possui habilidades e capacidades que precisam ser desenvolvidas, no entanto “as pessoas estão muito desacreditadas” de si e do outro. Assis destaca ainda que parte dos brasileiros têm acesso limitado ao conhecimento, fato que atrasa ou mesmo anula o desenvolvimento do potencial de cada um.

“As pessoas precisam acessar conteúdos, que normalmente ficam disponíveis para uma parcela elitizada da população, para assim assumirem o papel de protagonistas de suas histórias”, explicou o educador.

O terapeuta também ressalta a importância do lado emocional de cada indivíduo em seu desenvolvimento:

“Tudo faz parte de uma ideia que, somada aos sentimentos e emoções, tendem a se tornar realizações. Precisamos apenas lapidar, aparar as arestas, direcionar e, se preciso, acompanhar”, acrescentou Billy de Assis.

Billy de Assis, que se dedica de corpo e alma ao desenvolvimento psicossocial de crianças e adultos, incluindo professores, pais, profissionais de educação, apresenta cinco razões pelas quais é tão necessário acreditar e fomentar o potencial humano:

  1. As pessoas são diversas e possuem uma gama infinita de aptidões, sonhos desejos e ideias;
  2. Dar oportunidades para que o outro possa fazer escolhas é apresentar um mundo repleto de oportunidades;
  3. O ser humano é mutante: temos a capacidade de mudar e se adequar/ adaptar a novas situações;
  4. Viver é uma arte: capacitar pessoas para uma vida plena é mostrar que as potencialidades estão dentro de você, então podemos criar, inventar e ousar basta apenas acreditar;
  5. Acreditar é o passo fundamental para que mudanças aconteçam.

A Fundação ABH existe, porque acredita no potencial humano, porque investe e dá insumos para pessoas desenvolvam suas paixões, construam sua própria estrada e modifiquem a própria história em benefício não só de si mesmos e do desenvolvimento do território em que vivem, mas em prol da mudança na vida tantas outros agentes sociais que caminham lado a lado com o mesmo propósito.

Juntos podemos transformar!