Fundação ABH anuncia a criação do FCP M’Boi – Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi

Em 2022, a Fundação ABH formou o Comitê Construtivo, com o intuito de trazer ainda mais a voz da comunidade para a nossa estratégia e de forma colaborativa construir soluções sustentáveis em prol do desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo.

Foi um ano de muito trabalho e toda a dedicação do grupo começou a gerar frutos!

É com grande satisfação que iniciamos 2023 anunciando a criação do FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim), que pretende fomentar, estimular e dar visibilidade para a periferia sul de São Paulo, mais especificamente o subdistrito M’Boi Mirim.

A seguir, contaremos os detalhes do longo processo de construção desse fundo e de todas as suas diretrizes.

Como foi o processo de construção do FCP M’Boi?

Todo esse processo, facilitado pela Bemtevi, ocorreu ao longo de 2022 e totalizou 13 encontros ao longo de 8 meses, somando 94 horas de oficinas virtuais e presenciais com o Comitê Construtivo. Tudo foi construído do zero pelo nosso Comitê Construtivo, formado por atores locais com experiência em diferentes temáticas e que têm legitimidade e conhecimento sobre o território para identificar problemas e pautar prioridades.

A primeira reunião aconteceu em maio de 2022, durante um fim de semana inteiro, com o objetivo de integrar os membros, alinhar expectativas e compartilhar conhecimento.

A Diretora Executiva da Fundação ABH, Marina Fay, conta que o processo iniciou com a ideia de que a Fundação ABH se tornaria uma Fundação Comunitária. Assim, inicialmente, as reuniões giraram em torno de como seríamos atuando como uma Fundação Comunitária.

Ao longo do caminho, a Fundação ABH e membros do Comitê Construtivo tiveram a oportunidade de passar por uma consultoria, promovida pelo Programa Transformando Territórios idealizado pelo IDIS destinado à FICs (Fundações e Institutos Comunitários), com o especialista em Fundações Comunitárias, Agustin Landa, diretor fundador da Lanza e presidente da COMUNALIA (Aliança de Fundações Comunitárias do México).

Marina relata que Agustin fez questionamentos decisivos e que mudaram os rumos da reestruturação que estava em curso.

  1. Por que você quer extinguir a Fundação ABH e transformá-la em uma Fundação Comunitária? Por que apagar o seu legado como fundação familiar?
  2. A periferia sul de São Paulo é uma área imensa com contrastes e realidades distintas. Por que não dividir isso em áreas menores?
  3. Ao invés da Fundação ABH se transformar em uma FIC (Fundações e Institutos Comunitários), porque não fomentar a criação de outras FICs no território de atuação, que é tão vasto e diverso?

“Avaliamos as questões propostas em conjunto com o Comitê Construtivo e decidimos que, ao invés de criar uma nova FIC, onde seria necessário a formalização e, consequentemente, custos extras, criaríamos um fundo, com o objetivo de se tornar patrimonial a médio/longo prazo, focado para uma das regiões da Periferia Sul de São Paulo. Esse fundo ficaria no guarda chuva da Fundação ABH, mas com gestão própria seguindo as diretrizes, regulamento e governança desenhados coletivamente, até que o Comitê Construtivo (gestor) entendesse que seria momento de se formalizar. A Fundação ABH, portanto, investiria na criação desses pequenos fundos / FICs”, explicou Marina.

A partir daí uma série de pesquisas foi feita para definir qual seria o território base inicial, dentro da periferia sul de São Paulo, do fundo. Foram levantados desde dados estatísticos acessíveis pela internet, como o Censo Demográfico do IBGE, até levantamentos realizados com o próprio Comitê Construtivo, levando-se em consideração o interesse de possíveis investidores, a presença de outras redes atuando na região e a disponibilidade dos participantes de irem até o local.

Com isso, definiu-se então que a subprefeitura do M’Boi Mirim, que abrange os distritos do Jd. São Luís e Jd. Ângela, seria o território-base do FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim). “Fizemos o recorte inicial por subprefeitura, pois entendemos que, em algum momento, teremos que dialogar com o poder público e a divisão por subprefeitura pode facilitar esse diálogo”, acrescentou Marina.

FCP M’Boi – Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim

O FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim), criado pelonosso Comitê Construtivo, foi construído coletivamente desde as suas diretrizes até a escolha de seu nome.

O primeiro passo do processo, e mais longo também, foi o desenho da teoria da mudança do fundo para entendermos onde gostaríamos de chegar e qual o impacto que gostaríamos de promover no território.

A Teoria da Mudança, desenhada coletivamente, definiu que, para gerar o impacto de termos um território valorizado e atuante na sociedade, que contribui para uma vida mais digna e sustentável, o FCP M’Boi tem como principais objetivos:

  • Fomentar iniciativas transformadoras no e do território;
  • Estimular o ecossistema de colaboração, conectando recursos e necessidades;
  • Gerar mais visibilidade para as boas iniciativas locais.

Depois de termos clareza dos objetivos do fundo, definimos 9 pontos, abaixo listados, de suma importância para termos um regulamento que traga confiança e transparência ao trabalho do fundo, com metas a serem cumpridas, e finalizamos tudo com a construção deum plano de ação onde detalhamos o passo a passo necessário para colocar a ideia em prática, desde datas de reunião de governança, contratação de equipe, até data para lançamento do primeiro edital.:

  1. O tipo de fundo que criaríamos com a meta de que em médio ou longo prazo nos tornemos um fundo patrimonial;
  2. O foco do fundo (temas e territórios);
  3. A estrutura necessária para fazer o fundo acontecer;
  4. O uso do recurso: qual valor será destinado à estrutura, a grantmaking (apoio à projetos) e aplicado para que possa gerar rendimentos;
  5. A governança do fundo e seu modus operandis;
  6. As regras para conflitos de interesse;
  7. Os critérios de seleção de propostas (perfil, tema, pré-requisito jurídico);
  8. O processo de seleção de propostas (comitê de avaliação, etapas, contínuo);
  9. O formato de seleção de propostas (editais, carta convite).

Outro ponto importante que foi exaustivamente discutido, foi a captação e utilização dos recursos do FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim). O FCP M’Boi nasce com um capital semente, aportado pela Fundação ABH, no valor de R$ 200 mil.

“No primeiro ano 50% do recurso será aplicado visando gerar rendimentos, 33% será utilizado para gastos com infraestrutura e para contratar a equipe que, a princípio, será composta por um gestor, um captador de recursos e um profissional de comunicação. Os 17% restantes serão destinados ao apoio de iniciativas do território. Para os anos seguintes esse percentual poderá variar, de acordo com as metas de captação desenhadas pelo Comitê Construtivo com o apoio da Bemtevi”.

A voz de quem faz

O desenvolvimento do FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim) só foi possível graças ao nosso Comitê Construtivo, formado por pessoas que vivem a realidade do território e que dedicaram tempo, conexões e conhecimento para estruturar essa ideia e tirá-la do papel.

Veja os depoimentos de quem participou dessa construção, sobre como eles enxergam o processo e o potencial do FCP M’Boi que está sendo construído na e para a periferia sul de São Paulo.

Alânia CerqueiraMacambira Sociocultural:É um processo que demorou um tempo e o tempo necessário para dialogar, aproximar apresentar a todos os envolvidos, a todos os interessados e até os não interessados, porque é uma coisa muito nova, então precisa ser falada, precisa ser apresentada, e acolher todas as ideias e percepções na construção desse processo e pra mim isso é muito importante, isso foi muito visível, a transparência do entendimento da onde se estava, as dificuldades de compreensão e até mesmo de materiais que explicassem o que vem a ser fundação comunitária, a construção de um fundo patrimonial e outros tipos de fundo para desenvolvimento disso nos territórios e nisso a Fundação ABH e as pessoas que a cercam foi essencial, foi primordial, a apresentação, o acolhimento e as diversas formas de entendimento desse novo repertório, desse novo conteúdo e temática para nós das periferias. Outra coisa foi a amplitude de repertórios e de temáticas. Houve essa preocupação de que pessoas da cultura, do social, do esporte, da diversidade, a diversidade temática, das lutas e necessidades do território estivessem presentes na construção desse entendimento desse assunto, então isso para mim compôs e fortaleceu o processo de construção.

O Fundo Comunitário, que agora a gente pode chamar de Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim, para mim é de uma potência, eu fico emocionada, porque é uma coisa realmente comunitária, é uma coisa construída a muitas mãos. É estimulante o desafio de entender e construir, trazer peças, saberes, fazeres e a mudança de posicionamento, sair desse lugar operacional e ir para esse lugar estratégico, de construção de perspectiva a médio e longo prazo e isso traz possibilidades de uma outra perspectiva.

É de grande potencial, é de grande valia a gente poder mudar essa lógica de usar o dinheiro até que ele acabe, a gente poder pensa na rentabilidade de recursos e como é que a gente perpetua os nossos fazeres a médio e longo prazo, de maneira planejada, consciente. A gente faz e realiza há décadas, mas fazer isso de maneira planeja, organizativa e estratégica é uma coisa que me empolga, que me movimenta e percebo que isso também movimenta o grupo, que é rico, diverso, poucos ficaram, mas isso não é demérito, acredito que alguns que se afastaram nesse momento venham a compor e fortalecer em outros momentos, porque essa construção do fundo comunitário é um caminho longo a se trilhar, vão se ter muitos aprendizados, muitos diálogos e tudo isso vão construir diversas possibilidades”.

Alan Benelli, Coletivo Fora de Frequência: “O Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim foi desenvolvido coletivamente desde o início, o que já demonstra a potencialidade deste projeto. Nos reunimos inúmeras vezes para chegarmos em um formato de Fundo mais apropriado para contribuir com o fortalecimento de potências atuantes nos territórios da subprefeituras M’Boi Mirim. A implantação e ampliação do FCP M’Boi é de grande importância para acelerar o desenvolvimento territorial em diversos segmentos a partir de investimentos em ações protagonizadas por coletivos, sujeitos/as e organizações locais”.

Diane Padial, e-Bairro: “Acho que é uma oportunidade muito importante e nova para a periferia, com ganho para o desenvolvimento de projetos importantes para impulsionar atividades que já acontecem e outras novas. É uma forma de estimular os projetos e envolver o território na participação e é uma proposta desenvolvida por quem está no território com mais apropriação das questões que o envolvem. É uma proposta que deve demorar um pouco, mas está sendo construída com pessoas que são daqui e conhecem o território. Uma grande oportunidade para preservar este valor doado pela Fundação ABH para muitas melhorias e revertê-lo em algo que se perpetue, que muitos possam utilizar e melhorar as condições de vida”.

Silvani Chagas, Perifeminas: “O processo de se pensar o fundo representado por fazedores de cultura é simplesmente incrível, uma ferramenta de construção coletiva das pontas, cada um com suas necessidades, mas que se conectam de alguma forma. Pertencer a essa construção é muito significante, por conhecer os territórios, pertencer e contribuir na sua potencialidade. O fundo será um caminho para evolução de Territórios, legitimar  as narrativas, as trocas e o conhecimento”.

Naiara Padial, e-Bairro: “Participar do processo de construção do fundo foi uma experiência muito rica para mim como pessoa e profissional, me permitiu refletir a respeito do meu território de atuação e suas necessidades, além de me possibilitar um grande aprendizado em relação ao processo como um todo, conduzido pela Bemtevi. 

Acredito muito nessa semente que estamos plantando e creio que teremos bons frutos a médio prazo. Todos os pontos foram minuciosamente pensados e dialogados  pelo grupo. Vários cenários foram levados em consideração nas tomadas de decisões e por isso creio que estamos fazendo algo grandioso e assertivo”.

Marianne Baumgart, Bemtevi – Negócios Sociais: “O processo de construção coletiva dessa iniciativa foi bastante desafiador, pois uniu diversas lideranças com atuação em temáticas diferentes e de diferentes distritos da periferia sul, exigindo que o próprio método fosse sofrendo ajustes ao longo do percurso para poder se adaptar ao grupo e poder extrair o seu melhor. 

Por outro lado, pudemos vivenciar a riqueza da troca de tantos saberes e experiências, gerando aprendizados individuais e coletivos.

Esse processo de construção coletiva reforça as bases sólidas desse Fundo e demonstra seu enorme potencial por funcionar numa lógica com governança e transparência, mas não tradicional, na qual a própria comunidade determina o destino dos recursos e cria suas próprias regras para seleção das iniciativas locais, de acordo com as demandas sociais. Isso transfere autonomia, poder e muito aprendizado para o outro lado da ponte. 

Estamos muito felizes por ter contribuído nesse processo e confiantes sobre o futuro frutífero do Fundo Comunitário PerifaSul M’boi Mirim”.

O que vem por aí?

Este é só o início dessa jornada, os processos em torno do FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi) continuam e as ações da Fundação ABH em prol do desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo serão ainda maiores em 2023.

Agora que o sonho foi desenhado, dia 31 de janeiro realizaremos a primeira reunião de governança do FCP M’Boi com o Comitê Construtivo para colocar a mão na massa e transformar o sonho em realidade!

Ficou curioso para acompanhar os próximos passos e ações do FCP M’Boi? Então, fique ligado que postaremos todas as novidades nos nossos canais de comunicação!

Acredita nessa ideia e quer contribuir com o crescimento desse fundo inédito e pioneiro? Faça sua doação ou entre em contato conosco no contato@fundacaoabh.org.br!